Fábula












De mãos dadas ao sol
Fábula de coelho e pássaro
Escondidos nas ervas
Espécie de visitação aos humanos
De mãos dadas ao sol
Zambujeiro bravo e imóvel
Que tentas parar o tempo

Oásis












Cedo na praia a imaginação viaja entre concavidades da areia como dunas de relevo definido pela luz da manhã. Incorporo-me reduzido à sua escala situado a atravessar ao sol abrasador o deserto por conquistar.
À frente águas frescas e árvores de tâmaras douradas de açúcares passam-me da memória à boca e, enquanto sonho, exércitos de escaravelhos transportam-me como um Gulliver adormecido de oásis em oásis.

Soltar














Solto das páginas palavras, ágeis como tatuagens na tua pele. Contam histórias dos gestos, as minhas mãos inclinadas sobre ti como cornucópias.

Desviante












Viajante, desviante, por mim passam postes desfocados, bocados de coisas anónimas num tempo lento, indagante.

Foi a Flor












Renasceu a flor ainda ontem cabisbaixa pisada pela espécie rinoceronte, apanhou num fluxo de clorofila quantos não contavam. Tentando salvar-se, quiseram arrepender-se. Mas a flor que depois de se enraízar vegetal e física podia ficar imóvel e ancorar à sua volta, em vez disso, deixou-se polinizar. Foi uma borboleta com a sua trompa. Foi a flor a deixar acontecer um prado à beira de um rio, transparente desenfreado.